terça-feira, 6 de novembro de 2007

Existe democracia cultural?

Que loucura! É de deixar perplexo, estupefato! Até para se refugiar das tragédias e roubalheiras que tanto se vê no cenário sócio-político brasileiro, está praticamente impossível afogar-se em um universo paralelo.

Mire e veja: estudantes e fãs da leitura, indignados com os absurdos preços de livros, enciclopédias, revistas especializadas e diversos materiais impressos encontrados nas grandes livrarias da cidade, recorrem aos Sebos a fim de pagar mais barato por um produto cultural já utilizado. Só que, na caça de um produto desses, pode acabar de frustrando com os valores cabais que pode achar.

Andando pelos inúmeros sebos da cidade a procura de "Os Miseráveis", vastíssima obra de Victor Hugo, senti a facada quatro vezes apunhalar meu âmago: no primeiro sebo em que fui, localizado na Avenida Santo Amaro, deparei com um papelzinho indicando o valor de R$150 em três antigos volumes da obra.

Nos outros três sebos, com a esperança de visualizar melhores preços no livro, só acabei ficando mais irritado com as 'facadas' - o valor mínimo que achei era de R$55 por um produto já reutilizado diversas vezes, em um volume da década de 50.

E isso não é o pior. Casos semelhantes ou piores ocorrem diariamente. Universitários e leitores de carteirinha de baixa renda, infelizmente, até para dar continuidade aos estudos e análises literárias devem se render a alta lucratividade desses postos de venda e restringir seu tempo livre de leitura, muitas vezes por não ter dinheiro suficiente para ampliar a prateleira.

Então, o que resta? Recorrer a 'ilegalidade'. E qual é a 'ilegalidade'? A tão proibida cópia!

Apesar de uma cúpula decidir que apenas 10% de livros, tanto didáticos como obras ficcionais, possam ser copiados, essa porcentagem é ínfima se comparado às exigências pedagógicas que estudantes necessitam para melhor formarem-se culturalmente.

Ou seja, essa decisão prejudica professores, que não podem dar a oportunidade de seus alunos adquirirem mais repertório (a não ser que o aluno tenha como 'sustentar-se na cultura') para ampliar discussões em sala de aula; alunos, que nem sempre podem providenciar essas obras; e também a população em geral, que não se estimula em comprar novos e antigos livros por seus elevados preços.

E mais uma vez sai perdendo a maioria, enquanto uma minoria oligárquica do ramo vai se beneficiando com os altos custos de obras impressas. Até em um âmbito que deveria lutar contra a corrente do sempre lucrar é impossível encontrar democracia. Será que o sentido dessa palavra realmente existe na prática?

domingo, 4 de novembro de 2007

Alterações abafadas na SP Trans

Que abafado! Sinceramente, está difícil andar no transporte metropolitano público (ou, para ser breve e falar a língua portuguesa, andar de busão) na gigantesca Zona Sul de São Paulo, a maior região da cidade.

As alterações das linhas de ônibus nos bairros próximos ao Grajaú, Jardim Castro Alves e Cidade Dutra (para quem não conhece, são bairros periféricos da Zona Sul, afastados do Centro) prejudicou muitos usuários; principalmente os trabalhadores que dependiam de certos itinerários para chegar a tempo no serviço.

Saíram de circulação, no dia 7 de outubro, linhas extremamente úteis para "andadores de pé" da região, como a 695C/10 Jd. Castro Alves - Vila Mariana, 6029/10 Jd. Castro Alves - Terminal Santo Amaro, 5630/10 Jd. Eliana - Brás, 5631/10 Cidade Dutra - Largo São Francisco e a bastante utilizada 6726/10 Jd. Gaivotas - Metrô Ana Rosa.

Todas essas linhas foram substituídas ou migradas para novos itinerários, localizados no Terminal Grajaú. É o caso da criação das novas linhas 5630/10 Term. Grajaú - Brás, 675X/10 - Term. Grajaú - Metrô Vila Mariana, 6970/10 Term. Grajaú - Term. Santo Amaro.

Os bairros que perderam a opção de seguirem direto às regiões mais próximas do Centro devem adaptar-se às novas linhas que seguem direto para o Terminal Grajaú, que se localiza róximo a esses locais. Ganharam as linhas 6062/10 - Jd. Castro Alves - Term. Grajaú, 6076/31 - Jd. Progresso - Santo Amaro, 6726/10 Jd. Gaivotas - Term. Grajaú e 6083/10 - Jd. Eliana - Term. Grajaú.

Essas mudanças provocaram um caos imenso no transporte público. Se andar de ônibus já era ruim, agora está muito pior. Pelo menos essa é a realidade de quem mora nas proximidades desses "sacrilegiados" bairros.

EFEITO DA MUDANÇA

Moro no Parque América, local vizinho ao Jd. Castro Alves. Estudo de manhã e, para ir até a universidade, vou ao ponto final da linha 637V/10 - Pq. América - Pinheiros, para pegá-lo vazio. Sempre que ia até lá, por volta das 5:45 da manhã, o ponto de ônibus era recheado de cerca de, pelo menos, 120 pessoas. Agora, esse número duplicou.

Se antes eram formadas três filas cheias para pegar o transporte, hoje são mais de quatro, cada uma parecendo com a fila do INSS.

Ou seja, o povo dependente das linhas extintas se direcionaram até o destino final do Pq. América para fazer baldeação até um ponto onde se tenha mais opções de ônibus.

As novas linhas não estão dando conta de dar assistência aos moradores desses bairros. De cada dez pessoas que pergunto sobre o assunto, pelo menos 9 me dizem frases como essas: "Amanhã vou ter que acordar mais cedo pra pegar ônibus", "tirar essas linhas mudou totalmente minha rotina para pior" ou ainda "estão esquecendo que a população periférica é a mais dependente de transporte coletivo".

Antes, pegava o Pq. América - Pinheiros "não muito cheio" no horário de pico. Agora, para pegá-lo, tem que rezar para conseguir ao menos ir pendurado nas portas.

SOLUÇÃO

Se o objetivo era mudar rapidamente a situação do transporte público paulistano, conseguiram. Só que para pior. Tirar linhas úteis para aproveitar a integração (obtida com o "cartão dos pobres" ou Bilhete Único) aos terminais de ônibus, só atrasa a vida de uma população que quer chegar o mais rápido possível ao trabalho, colégio ou universidade. E essa mudança só causou mais lerdeza para os dependentes do "busão".

Para melhorar, somente colocando mais transporte coletivo nas ruas, investindo mais em transportes rápidos como metrôs e trens metropolitanos, aumentando o número de frotas, mantendo o rodízio de carros para não intensificar o trânsito e criando mais passagens exclusivas aos ônibus (como os passa-rápidos). Em suma, tem que investir em transporte público.

REALIDADE SIMILAR

Não foram apenas essas alterações que prejudicaram o cidadão "tomador" de ônibus. Na região próxima ao Jardim Ângela, a linha 637N/10 Jd. Nakamura - Itaim Bibi também perdeu seu lugar ao sol. Segundo o site da SP Trans, esse itinerário foi retirado pois o cidadão "tem como opções as linhas 6017/10 Nakamura – Santo Amaro; 6811/10 Parque do Lago – Borba Gato; e 637C/10 Jardim Jacira – Pinheiros"

Estava em pé no ônibus e escutei um comentário de uma usuária, que não parecia muito satisfeita com a mudança. "Sem essa linha do Itaim Bibi tenho que pegar uma perua até o Terminal Santo Amaro e com isso gasto muito tempo. A perua que pego sempre está lotada e raramente se consegue sentar naquele inferno", disse.

Apenas como ouvidor, me sensibilizei. Mas estou tranqüilo: com certeza, essa bomba não estou segurando sozinho. Tenho com quem compartilhar minha profunda indignação com tamanha falta de responsabilidade na gestão de transportes.

Otimistas dizem que esse ato pode ser vantajoso a longo prazo. Mas, sinceramente, duvido muito que altere para melhor a realidade desse povo que não tem seu próprio carro.

Agora sim, acho que desabafei! Ufa!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tropa de Elite 1, 2, 3 e 4

fonte: http://www.adorocinemabrasileiro.com.br/filmes/tropa-de-elite/tropa-de-elite02.jpg

Estava caminhando sob o intenso calor nas ruas de São Paulo, despreocupado com as paisagens que formam a grotesca estética da cidade. Tinha acabado de assistir a um filme blockbuster de moderado grau de violência - cujo nome não me lembro -, decepcionado pelas medíocres cenas de porrada do filme, que me deixaram com gostinho de quero mais.

Na tentativa de buscar alguma referência cinematográfica que satisfazesse essa minha insanidade em consumir sangue, lembrei do noticiário; o filme de José Padilha, Tropa de Elite, foi o mais pirateado na história do cinema: logicamente o encontrarei para comprar nas barraquinhas de camelô que ilustram meu pobre bairro.

"Cara, você tem o filme do BOPE - Tropa de Elite", abordei o vendedor. "Vixe, esse tem de sobra. Tenho o 1, o 2, o 3 e até o 4". "Nossa, já tem quatro seqüências? Mas não são todos a mesma coisa não, né?". O vendedor advertiu: "Que nada! Garanto pra vocÊ que não".

Não resisti. Por apenas R$12, levei 4 filmes e rapidamente dirigi-me até o DVD da minha sala.

Para conferir se não fui sacaneado, coloquei os filmes para ver se funcionavam, até que tive uma surpresa que me inquietou bastante: todos, realmente, eram diferentes. Totalmente diferentes.
O primeiro filme era o Tropa de Elite mesmo, o polêmico, violento e ao mesmo tempo realista obra de José Padilha. A surpresa se iniciou quando coloquei "o 2" no aparelho: na verdade, era uma obra que nada tinha a ver com o filme de Padilha. Era Notícias de Uma Guerra Particular, documentário sobre traficantes e policiais de João Moreira Salles lançado em 1999. O terceiro e quarto DVD´s eram, respectivamente, Dia a Dia de um Policial e Ônibus 174.

Abstraí. O comércio pirata, além de conseguir ter acesso ao Tropa de Elite original e conseguir ter um alto números de vendas de maneira alardeante, nomeia obras de outros profissionais como seqüências, criando uma "quadriologia da insanidade", enganando o público para vender mais.

Não é de se impressionar um ato desses da pirataria, que copia filmes (muitas vezes do cinema, o que resulta uma qualidade de imagem horrível) para vender por preços mais acessíveis. É lógico que muitas pessoas, glorificadas por ter oportunidade de comprar um filme por R$3 ou R$4, optam por isso. Seduz. Inclusive, já comprei diversos DVD´s piratas, pois nem sempre tenho dinheiro para ir ao cinema.

PÚBLICO E CRÍTICAS

Tropa de Elite está nas telonas. Espera-se que grande parte do público vá até as bilheterias e pague para (re)vê-lo. Boa parte do público já o tem em sua casa e já deve ter revisto pelo menos umas três vezes, pois em todo boteco que se vá, não há uma roda de amigos que não discuta sobre o filme.

Li a crítica do filme nos jornais e está com uma boa avaliação. Também, uma narrativa interessante (típica de Bráulio Mantovani, que já foi roteirista de Cidade de Deus, O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias e Cidade dos Homens), uma temática atual e polêmica, atuações incontestavelmente sensacionais (principalmente a de Wagner Moura no papel do Capitão Nascimento) são dignas de elogios.

Só que há uma discussão de que o filme tem uma visão fascista, ou seja, faz apologia à violência e defende o lado policial desse jogo comercial entre miltares e traficantes.

Eu já vejo por outro lado. Acredito que a honra destaca o interesse uníssono de ambos os lados, que respeitam a única regra de lutarem, ultrapassando por todos os limites e barreiras, para sobreviverem nesse mundo globalizado e capitalista.

O filme é ótimo, as "seqüências", que nada tem a ver com o filme de José Padilha, também o são. Só que, infelizmente, prefiro sustentar a pirataria, do que pagar R$10 para ir ao cinema, ou por volta R$40 (preço que irá custar o DVD original de Tropa de Elite) para sustentar uma indústria que suga mais do meu custo-benefício do fim do mês. Corro para onde saio economizando mais. Infelizmente, é assim.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sentimentos de um brasileiro ao narrar a História de seu País

Sou cordial. Sei que a América é o continente onde foi jorrado mais sangue em toda a história em seu período de colonização, superando o saldo de mortes das duas guerras mundiais juntas. Descobrir a América pode ser motivo de orgulho para muitos, mas para mim nada mais é do que a predominância de um povo maniqueísta que não consegue conviver com a diversidade.

Sou conformado. Sei que o Brasil foi regado de autoritarismos, onde a ânsia pelo poder alimentou uma segregação racial que perdura até os dias de hoje. Negros e índios que não pegassem na enxada eram castigados por um chicote, quando não armas mais torturosas e de maior potência. O dia em que essa violência foi extinta, não consta no meus conhecimentos. Já li nos jornais casos que comprovam a inexistência dessa utopia. Mas de uma coisa sei: que isso não teve fim em um 13 de maio qualquer.

Sou otimista. Apesar da origem da República no Brasil impedir qualquer manifestação contrária às ideologias dominantes, o País teve verdadeiros representantes que fizeram jus ao posto.

Getúlio Vargas, com seu nacionalismo e obsessão em querer ser Benito Mussolini, não deu chance alguma aos imigrantes ilegais que vieram parar em seu Estado Novo. Seu dilema de identidade nacional impediria qualquer revolução encabeçada por um estrangeiro.

Juscelino Kubitschek e o surgimento de Brasília arquitetada por Niemeyer traçaram a era 1956-1961. Não se pode negar que com ele o Brasil deu um grande salto nas áreas tecnológicas e industriais. Já ouvi dizer que com ele o Brasil evoluiu uns 50 anos - mas também se endividou por um século.

Anos mais tarde veio a Ditadura Militar. Apesar das mortes, torturas, execução de socialistas, anarquistas e comunistas, implantação do AI-5, censura da imprensa, ato de recolher, mentiras, lavagens, manipulação, abuso de poder, é nesse período que data a "fase de crescimento" do Brasil. Sim, nossa economia era de alargar risos. E, os defensores de um outro método de política, o que eram? Subversivos contrários à pátria que mereciam ser deportados ou executados. "Brasil, ame-o ou deixe-o". Ousasse contestar.

Regado de democracia, Fernando Collor elevou o orgulho de ser brasileiro. Bloqueou contas e fez o favor de empurrar para o fim do precipício miseráveis que ainda tinham fé de que a situação econômica dos pobres iria melhorar. Que nada, é apenas um incompreendido. Mas sabe que é amado pela nação. Senão, o que justificaria sua volta para a cena política?

O tempo passou e a democracia nos trouxe o petista Lula. Mensalões, apadrinhamentos, lavagem, corrupção escrachada, tentativa de pôr fim à oposição, mesada aos pobres, ira com os rebeldes... Infortúnios à parte, nosso Lula é o brasileiro que mais se assemelha com o povão. Gosta de churrasco, não nega uma Skol gelada, é católico e defende a vida sexual ativa de seus compatriotas. Tem uma boa personalidade, é sensível; adora ajudar. Quer ajudar Hugo Chávez a entrar no Mercosul, quer ajudar o País a dar etanol a preços ínfimos para os americanos, quer ajudar Fidel a sair da cama e restituir a sua Cuba Socialista, quer ajudar o Haiti instalando seus soldados para trazer de volta a palavra paz àquele lugar e até mesmo ajudar a pilhéria do Senado: nosso famigerado possessivo Renan Calheiros, que não quer largar a cadeira.

Tenho orgulho de sentar em uma mesa de bar com amigos e traçar o panorama político da Nossa Pátria Amada. Todos esse fatos, apesar de não girarem em torno do aproveitamento de nossas riquezas mais requisitadas como água, árvore e etanol, são motivo de contar boas histórias.

Li sobre psicologia e descobri que rir é tão bom que impede a contração de males e manda para o espaço as células malignas que formam as mais graves doenças no corpo humano. Assimilei essa informação científica com a História Brasileira, que todos deveriam encher a boca para contar de tão maravilhosa que é. E, como sou uma pessoa cordial, conformada e otimista, sei que a política nacional vai me livrar de inúmeras doenças das quais nem sei o nome. Pois, motivos para rir não faltam - só não pode se sensibilizar demais com nossa história, ou as células podem se rebelar, e os efeitos...bom, é melhor nem pensar!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Inexistência da imparcialidade jornalística

Seria possível a objetividade no jornalismo? O repórter, ao noticiar o fato, expõe em sua matéria a absoluta verdade? O que é a objetividade jornalística? Essas são questões que não querem calar na boca dos jornalistas e pesquisadores do assunto.

Segundo o teórico Josenildo Luís Guerra, “objetividade é o conceito de verdade”. Para ele, “é a propriedade que permite ao discurso a possibilidade de ser fiel ao fato”. Noutras palavras o jornalista, ao realizar bem o seu trabalho, materializando o que foi apurado e checado, entrevistando fontes de diferentes opiniões para trazer o pluralismo à reportagem, pode estar explicitando ao receptor a verdade do acontecimento.

Por outra corrente de pensamento, Eugenio Bucci, presidente da Radiobrás e autor do livro Sobre Ética e Imprensa (Cia. das Letras) conclui que “a verdade dos fatos é sempre uma versão dos fatos”.

Esse conceito (o qual grande parte dos teóricos de jornalismo defendem) vê a objetividade jornalística como algo inalcançável. “A objetividade absoluta, entendida como o conhecimento absoluto e total da realidade, não existe”, complementa a doutoranda em comunicação Liriam Sponholz.

O jornalista, acima de tudo, tem o dever com a população. Porém é ufanismo pensar que é detentor do poder de narrar em sua matéria o espelho da realidade. Pois os fatos, por mais concretos que sejam, nada mais são que uma visão, uma interpretação daquele que os enxerga.

Quando um repórter vai atrás da notícia, pesquisa, seleciona os entrevistados, apura e confirma os dados, ao redigir seu texto estará narrando uma representação do caso, por mais ampla que possa ser sua reportagem – o que não significa que uma matéria não traga consigo a veracidade. Do contrário, não existiria mais de um jornal diário, radiojornal ou telejornal.

Mas, se a realidade não é objetiva, tudo sempre possui mais de um lado, quais são os pré-requisitos para que uma matéria seja publicada? Quando pego um jornal em mãos e leio uma reportagem, não estarei diante da verdade indubitável?

Partindo do princípio de que “o relato, qualquer que seja ele, é um discurso e, como tal, é inevitavelmente ideológico”, como diz Bucci, a reportagem deve mostrar claramente as informações para o leitor ou espectador, com o maior número de fontes divergentes possíveis para pluralizar a matéria e garantir a singularidade, possibilitando este consumidor da notícia interpretá-la à sua maneira.

Além disso, o texto possui a unicidade do jornalista que o redige; por mais implícito que possa transparecer, ele estará deixando sua marca - que constitui a formação de seu caráter e sua credibilidade, já que graças a sua competência e suas técnicas que seu trabalho é valorizado - desmistificando a existência da imparcialidade e isenção. Porque, de acordo com Felipe Pena, autor de Teorias do Jornalismo (Editora Contexto) o jornalista, como indivíduo, possui suas ideologias, partidarismos, simpatias e diversas idiossincrasias que interferem na construção de sua realidade (no caso, explicitada em sua matéria).

As fontes também desenvolvem um importante papel para que a notícia tome determinado posicionamento. Com os relatos em mãos, o repórter faz utilização das aspas não só como método de complementação informativa para enriquecer seu texto, mas também, muitas vezes, como estratégia discursiva para dar rumo a ele, não se comprometendo com o discurso alheio (algo como tirar o seu da reta e jogar na fala do entrevistado) e denominando-se neutro diante do fato.

Esse processo de noticiabilidade, intervida por fontes e ideologias individuais também pode sofrer moldes se não se enquadrar nas avaliações do editor ou até mesmo do jornal em questão. Mas essas são questões de ética, de interesses (que podem alterar a notícia, como o caso da edição do Jornal Nacional, em 1989, no debate dos candidatos à presidência Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, que pode ter sido motivo de influência na votação do público, que elegeu Collor – favorecido pelos cortes - com 50% dos votos contra 44% de Lula, que acabou sendo prejudicado) dos conglomerados para atingirem seus objetivos.

Diante dos inúmeros direcionamentos que uma reportagem pode chegar, das mudanças que ela pode ter com a intervenção dos editores - que não presenciaram o acontecimento - e a adaptação do que foi escrito para o público, conclui-se que a objetividade textual, em que a absoluta verdade está presente para que todos vejam, não existe.

Para que o trabalho de um jornalista possa ser realmente congratulado, a objetividade desse profissional teria que estar no método de pesquisa, na apuração e coleta de dados (como defendia Nelson Traquina, “ela traz maior segurança quanto à verossimilhança do fato”); para que a reportagem tenha uma ênfase relevante, mostre à população informações que interfiram no seu cotidiano e os faça enxergar que o que está exposto não é a verdade incondicional e inquestionável, mas sim, a melhor versão possível da realidade.

[trabalho realizado para a disciplina Teoria do Jornalismo, com ajudas de Raquel Moraes e Cleber Arruda na elaboração do texto]

Retratos explícitos do Brasil

Com imensos 8.511.965 km² e uma população de mais de 170 milhões, o maior país da América do Sul parece não se dar conta de visualizar e atender todos os seus 26 Estados.

A opinião pública, o que é datado, o retrato brasileiro, as principais notícias, centros de estudo e até mesmo os cartões postais que identificam o Brasil em relação aos estrangeiros se restringem as suas duas maiores e mais povoadas cidades: São Paulo e Rio de Janeiro.
Quantos já escutaram, viram ou leram sobre as estatísticas opinativas da região de Mato Grosso? Quem já se interessou por um filme localizado no Amapá? Quais são os mais marcantes traços de um cidadão do Acre?

A diversidade aqui existente é imensa para que seja estabelecida uma nacionalidade paulistano-carioca, impressão que se dá, principalmente, ao ter conhecimento da direção dos projetos políticos, do cenário televisivo ou a manchete dos jornais impressos.

Por mais que tente caçar nos meios de comunicação notícias sobre regiões brasileiras 'camufladas' como países do Norte e Centro-Oeste, nada mais vejo que quueimadas decorrentes da Amazônia e da baixa fiscalização nesses locais.

Baixa fiscalização que se justifica pela miopia dos políticos em não enxergarem esses estados e procurar atender às necessidades de seus povos.

IDENTIDADE NACIONAL

A febre citadina tomou tanta conta do panorama nacional após o período da industrialização, que, para vociferar contra ou a favor de determinado momento político do país é preciso residir no eixo Rio-São Paulo.

O domínio das fábricas sobre a agricultura brasileira influenciou tanto, que os costumes vigentes, o comportamento e até mesmo o 'sotaque nacional' são homogeneizados pela rotina da cidade grande.

Isso se manifesta de maneira tão estrondosa, que ouvir alguém puxar demais o 'r' ou o 's', ou falar de maneira diferente do que é visto nos padrões televisivos da "correta pronúncia da língua portuguesa", que chega a ser motivo de chacota, de risos infindáveis para os 'privilegiados' do Sudeste.

O engraçado é que, a maior parte do Brasil se encontra justamente nesses longínquos, enfermos e 'hilariantes' estados do Norte e Nordeste. Adoraria - mas não sei se é por falta de informação minha ou negligência da mídia em não mirar seus repórteres para esses locais - saber o que acontece em estados como Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Sergipe, Alagoas, Tocantins, Mato Grosso do Sul, assim como tenho conhecimento das notícias da Terra da Garoa e da Cidade Maravilhosa.

No Brasil, não existe um Estado unificado em que todas as regiões são unidas e possuem os mesmos comportamentos; o que acontece é que a diversidade é tão imensa, que toda a concentração e preocupação, infelixmente, se foca apenas no Rio e em Sampa. E esse foco prejudica tanto o contexto nacional a ponto de não traçar um panorama geral do que acontece em todas as regiões brasileiras. Se se satisfaz os cariocas e paulistanos, vamos bem. Lá estão concentrados as principais fontes de renda e é onde residem os mais ricos cidadãos do País.

O que existe no Brasil são fragmentos de uma identidade. Uns falam 'oxente', outros tomam chimarrão, outros carregam baldes, outros enfrentam numerosas filas em seu cotidiano.
A identidade nacional tem menos de 10% da expansão territorial vista no Atlas. São os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo (Brasília pode migrar para um desses estados já que não é tão grande mesmo).

Para o 'resto' daquilo que tanto orgulhamos de chamar de nação, deixemos ao léo e vamos esperar uma nova Independência para decidir o rumo dos execráveis cidadãos que tanto atrapalham o desenvolvimento do maior país da América do Sul.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Indignação de quem já indignou demais



O ministro da Defesa Nelson Jobim, ao falar sobre o lançamento de Direito à Memória e à Verdade, livro que fala sobre a ditadura militar no Brasil no período de 1964 a 1985, dizendo que "não haverá indivíduo que possa a isso reagir e, se houver terá resposta", provocou reações de repúdio aos militares.

A obra retrata a trajetória do governo autoritário no país, falando sobre as ações do Exército diante dos oposicionistas do regime, o movimento estudantil que gerou as "Diretas-Já" e o desaparecimento de brasileiros ligados a partidos comunistas ou socialistas.

O Exército, que aguarda seu comandante retornar de viagem, o general Enzo Martins Peri, ainda não manifestou contra o discurso. Mas já explicitaram seu descontentamento, ao falar que foi uma "ameaça desnecessária".

Essa insatisfação, que é de mau agouro, confirma a vontade do Exército em fazer com que a população esqueça dos tempos de chumbo que pairaram sobre a nação. Porque, não dá mais pra camuflar essa onda de assassinatos aos compatriotas que foram contrários à ditadura. Inclusive, existe um arquivo secreto de apenas 15 cópias do Exército, que menciona a causa dos inúmeros desaparecimentos de integrantes do PC do B (como Antônio Alfredo Campos, Francisco Chaves, João Haas Sobrinho), taxando-os como terroristas, que foram mortos por armarem em uma emboscada e caírem em uma contra-emboscada, estrategicamente preparada pelos militantes.

O documento, de 966 páginas, também revela o como e por quê o Exército escondeu informações sobre os guerrilheiros do Araguaia, o implante da censura na mídia brasileira e a tortura - que ao modo de ver militar é benigna por favorecer à ordem social - contra os oposicionistas.

Esse livro, entitulado O Livro Negro do Terrorismo no Brasil, foi desvendado pelo jornalista Lucas Figueiredo, que o publicou na revista mensal Rolling Stone.

Ou seja, o Exército - que não é bobo nem nada -, ao declarar repúdio ao discurso de Jobim, nada mais quer que passar uma borracha em uma realidade que não pode ser negligenciada. A proposta é fazer a população de ingênua, como tentaram fazer ao afirmar que o jornalista Vladmir Herzog se suicidou e que os que combatiam na Guerra do Araguaia sumiram "do nada".

Todos sabemos a extrema importância que os militantes tem para com nosso País, mas se baixarmos nossa cabeça a ponto de sermos clamados como subversivos, estaremos calando nossa boca diante de um fato verossímil e incomensurável.

A palavra "sentido" pode ser direcionada e aplicada aos soldados do Exército, mas não mais à população brasileira, que já sofreu demais com esse tom autoritário durante os lastimáveis dias que duraram o Regime Militar.

"O medo é uma barreira criada pela mente"



Por natureza, temos medo do novo. Medo de expandir nossos ideais, medo de conhecer povos de outros costumes, medo de escutar uma música de outro gênero, medo de conviver com pessoas que não tenham os mesmos gostos que os nossos.

Essa barreira que nossa mente cria impede de termos um eloqüente diálogo com pessoas "totalmente diferentes" de nós. E não basta apenas ler extensos livros e estudar diariamente para aceitar o outro.

Muitos temem o novo por acharem que, ao conhecê-lo, irão abolir a atual opinião que possuem, que o convívio com pessoas diferentes acarreta em ter uma visão igual a elas. Ou seja, acham que suas idéias sempre são as verdadeiras e ignoram os outros modos de pensar. Se são roqueiros, temem virar pagodeiros. Se são autoritários, temem a predominancia de outras vozes. Se são direitistas, ao conviver com esquerdistas, temem migrar para sua posição político-ideológica.
É necessário viajar, conhecer pessoas de todas as classes sociais, pisar no solo sertanejo, ter contato e entender o cotidiano dos índios para escutar as divergências e dificuldades que os povos distintos possuem a fim de ter a empatia e o altruísmo de se colocar no lugar dessas pessoas e compreender o comportamento delas em determinadas situações.

Tomar a atitude de querer ampliar seus conhecimentos humanos através da convivência é ser progressista. Dá a habilidade de refletir sobre todos os âmbitos e camadas sociais.

Ter noção do novo não dói e nem machuca - é experimental. Não precisa gostar daquilo que é diferente; apenas deve conhecer para não ter uma visão maniqueísta da realidade. É a diferença que compõe a pluralidade social. Pois, como diz o ditado popular "o medo é apenas uma barreira criada pela mente".

[esse texto foi escrito para a proposta de redação do Enem 2007]

Modelo Ecoeconômico de crescimento: possível?

Está em discussão entre ferrenhos ambientalistas um diferente método de crescimento econômico, a Ecoeconomia, que tem como proposta maior preocupação com os recursos naturais e controle da alta produtividade quantitativa - característica intrínseca ao capitalismo, modelo de desenvolvimento da atualidade.

Europa e os Estados Unidos, nações que melhor representam o desenvolvimento econômico na contemporaneidade, juntamente com o 'boom' da China, ao decorrer do tempo, vêm negligenciando a discussão, que teve maior repercussão após o inevitável aquecimento do planeta.

Os países desenvolvidos acreditam que esse modelo de crescimento é inviável por serem totalmente dependente de capitais e recursos estrangeiros, que ficariam mais restritos com a mudança econômica. Prova disso é o protecionismo dos países ricos aos diálogos. Não querem investir em política ambiental e esquecem que enquanto isso mais gases vão sendo emitidos à atmosfera.

Relatórios e mais relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) vão sendo feitos, mas não adianta: o homem não consegue adaptar-se às mudanças drásticas que devem ser feitas no momento, para de que o problema retroceda.

Tendo conhecimento que um dia o petróleo e a água irão acabar, os ambientalistas acreditam que conservando recursos que podem ser nefastos para o aquecimento, como a excessiva extração de combustíveis fósseis, a diminuição do uso de produtos nucleares e outros meios que um dia possam escassear ou emitir danosos gases.

Em um mundo onde é impossível viver sem celulares, internet, carros a gasolina, muito provável que essa discussão não avance, uma vez que grande parte dessa dependência teria que ser restringida. A tecnologia nos seduziu tanto, que agora é difícil largar.

Já que politicamente é quase impossível de haver uma conscientização coletiva, cabe aos verdadeiros preocupados com a situação esperar que o ser humano coloque a mão na cabeça e faça por si mesmo a sua parte, tentando consumir menos e preservar mais. Sérá isso possível?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A ambivalência do governo Lula


Grande alvo de críticas, principalmente pela população da classe média, ditos "politizados"; e a mídia, Luiz Inácio Lula da Silva incomoda por seu jeito de fazer política. Escândalos à parte, o gancho para escarrarem a indignação no Presidente se encontra no seu Programa Bolsa-Família.

Articulistas políticos de jornais e a maioria dos jovens universitários dizem que esse programa nada mais é que uma forma de aumentar sua popularidade, para garantir voto nas próximas eleições.
Vozes esbravejantes, ao se inconformarem com o método "lulista" de governar, não se dão conta (ou pelo menos não querem se dar) dos benefícios que seu programa vem desenvolvendo.
Através de um estudo dos especialistas Sergei Soares, Ricardo Paes de Barros e Marcelo Néri, juntamente com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Programa Bolsa Família está afastando o Brasil daquela calamidade que o povo sempre reclamou: a diferença de classes.
O índice de desigualdade brasileiro, segundo a pesquisa, caiu de 0,583 pontos em 2003 para 0,568 em 2005 (quanto mais próximo do zero melhor). O Programa Bolsa-Família, que dá assistência à mais de 10 milhões de famílias, tem fundamental papel nesse índice porque auxilia pessoas de baixa renda. Além do mais, beneficiários desse programa devem ter seus filhos na escola, o que faz com que os jovens por ele atendidos estudem com maior freqüência.
O colunista do jornal O Globo, Merval Pereira, publicou semana passada: "Entre o público de 7 a 14 anos atendido pelo Bolsa Família, a taxa de freqüência escolar é 3,6 pontos percentuais acima da observada no conjunto dos não-beneficiários. No público feminino, essa diferença chega a 6,5 pontos percentuais, e no Nordeste é ainda maior: 7,1 pontos percentuais".
Não é a toa que grande parte do povo nordestino venera Lula. A última pesquisa de satisfação com o governo do presidente indicava maior popularidade no Nordeste. Graças ao que? ao seu programa assistencialista, claro.
Opção dos necessitados
Movimentos de indignação para com o petista não faltam. A nova agora é o "Cansei", da OAB, que nada mais é que uma propaganda panfletária, que traz para si artistas com fim de convencer a população à vociferar o impeachment do Presidente. Nada mais que jogada política da mídia.
Todos sabemos a insatisfação que o governo Lula traz ao país. É mensalão, licitações, lobby, caixa dois, palanquismo, eterna campanha, negligência. Há muito o que criticar sobre o petista.
É um governo ambivalente. Por um lado, enriquece cada vez mais banqueiros, causa revolta na população contrária ao seu governo (que se concentra no eixo Rio-São Paulo) e encobre apadrinhamentos existentes no Planalto. Por outro lado, ajuda o povo carente a sobreviver, estimula crianças beneficiárias do programa assistencial a irem mais às escolas e afasta o Brasil do índice de desigualdade.
Certo que, melhor para a nação seria se tivéssemos um presidente que realmente representasse o povo e criasse maiores oportunidades de emprego para os brasileiros. Para se adaptar ao governo Lula é necessário ter mais altruísmo com os beneficiários que preocupação com suas necessidades.
Agora, ao olhar para trás, dificilmente enxergaremos um governo que se preocupasse com a precariedade de quem passa fome. É indubitável que o Programa Bolsa-Família é um projeto de campanha, mas, se tirarmos Lula do palanque, será que teremos alguém capaz de olhar por esse povo sofrido?

O restrito cotidiano universitário



Exercitar é preciso. A inexistência de um jornal experimental não só impossibilita a prática dos alunos na escrita jornalística, como faz com que os universitários fiquem cada vez mais distanciados sobre os acontecimentos, tanto do Brasil e do Mundo, como mínimas interferências ocorridas no ambiente em que estudam.
Isso descontextualiza toda a representação da palavra Universidade, que deveria ser âmbito de experimentações, inúmeras discussões e interpretação visionária da realidade, para passar a ter o significado de presídio; pois, geralmente, o formando sai de casa ou do serviço em direção à faculdade para sentar na cadeira, escutar o que o professor tem a dizer e empenhar-se em tirar boas notas para não ficar dependente em alguma matéria.
Ou então para conversar com os amigos sobre a última balada que fizera, deixar de ir à aula para tomar cervejas no bar próximo e exercitar o dom da paquera, se encaixando na estatística de jovens que (simples e unicamente) são universitários.

Estudar é muito bom, descontrair-se, melhor ainda. Mas limitar a isso condiz em enquadrar-se no contexto de Universidade como presídio. Isso leva a pensar: para que vir à faculdade? Pago um grande valor na mensalidade apenas para sentar na cadeira, estudar para as provas durante três ou quatro anos para ter em mãos o tão sonhado diploma?

Não se pode negligenciar que o objetivo-mor possa ser esse. Porém é um contra-senso imaginar que restringir-se dessa maneira o fará futuramente um bom profissional. Pelo contrário, só o faz mais um concorrente disputando uma boa vaga no sistemático mercado de trabalho.

A tentativa de fugir do estereótipo propicia levantar outro questionamento: faço faculdade apenas para ingressar no mercado de trabalho? Invisto uma absurda quantia somente com a esperança de ser ressarcido ganhando um ótimo salário? E o conhecimento? E a bagagem cultural? E a troca construtiva de idéias com o fim de ter uma vida mais sociável e reflexiva?

É indubitável levantar essas indagações para despertar a vontade de fazer da Universidade um ambiente de grandes experimentos e trocas quantitativas, com o fim de se tornar mais pró-ativo e estender o sentido da palavra universo - algo cada vez mais distante dos universitários.
Ampliar os conhecimentos é fundamental. Falar sobre problemas que ocorrem na sociedade, ter o altruísmo de iluminar a mente de outrem, ter noções dos conflitos para buscar uma alternativa viável com o objetivo de melhorar algo que está errado, são ações possíveis dentro de uma Universidade.

Para tanto, a informação e a capacidade de reflexão são imprescindíveis para estimular o interesse de mudar. Devemos ter a visão além do alcance para interpretar os fatos do cotidiano e compreender situações mais complexas, não apenas ver o muro da Universidade como empecilho para ampliar o saber.

A utopia da democracia

Pensar em democracia sem acessibilidade é abolir totalmente o sentido que essa palavra representa. Democracia, acima de tudo, é fazer com que a sociedade tenha ingresso e interferência em todas as decisões estabelecidas por um oligopólio (que infelizmente existe) ou pelo Estado (que pode ser entendido como o grande manipulador em busca de seus interesses). Pelo menos, é isso que se entende ao ler o pequeno texto do Art. 1º da Constituição: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes (...)”.


Porém é utopia imaginar viver democraticamente num âmbito onde a maioria é restrita às informações e as decisões são tomadas sem nem ao menos serem mencionadas à quem realmente possui todo o direito de contestá-las: o público.
Pior que toda essa negligência de cidadania, é vetar que determinado grupo - que faz parte dessa sociedade – não satisfeito com as ‘regras e resoluções’ estabelecidas pelos detentores do poder, tenha o direito de se opor a essas decisões, não os dando oportunidade de exporem seus ideais: calando a tão poderosa ‘voz do povo’ e suprimindo a liberdade de expressão.
Não só fazer uso de uma borracha nas idéias contrárias, a ‘democracia oligárquica’, com o fim de vencer pelo cansaço, burocratiza todas e quaisquer controvérsias ou movimentos que fujam dos seus interesses. Disso conclui-se que, grande parte dos projetos e inovações (que vêm como forma de neutralizar os danos que causam à sociedade) criados por esses oligarcas são instrumentos de manipulação, pois é através dessas criações em que seus discursos se basearão para persuadir todos a comprarem sua famigerada ideologia (óbvio que) objetivando fins, ou lucrativos para se fortificarem ainda mais, ou de trazer o comodismo e a inércia para que tudo permaneça como está.
As conseqüências abstinentes que o conservadorismo elitista traz à sociedade desperta o sentimento revolucionário: a vontade de abrir a boca e questionar como toda essa opressão só traz a inatividade coletiva e a escalada para o próximo zero na conta dos opressores. Tendo isso em vista, o indignado terá o fundamental papel de mobilizar o público a qual pertence, buscar seu apoio e derrubar os ‘ideais ditatoriais’; conquistar a credibilidade, não só da maioria, como também dos ‘inimigos’ e ter a oportunidade de representar a sociedade a qual pertence.
Mas para chegar a subir degraus nessa ‘escada dos direitos humanos’ é preciso ter, primordialmente, peito para bater de frente contra os discursos homogeneizados da classe dominante, contra a fortaleza ideológica que essa classe obriga seus vassalos defenderem (pois são esses os fins de sua intensa propaganda) e contra os ‘irrecusáveis acordos’ que possam propor (entenda-se propina ou ameaças).
Subindo esse degrau, esse(s) grupo(s) indignado(s) terá que conscientizar a massa que essa rotulação conservadora nada mais é que estratégia publicitária que visa banalizar o real e emburrecer a população mais e mais, para que continuem a consumir seus produtos e idéias e encham seus bolsos de notas de R$100.
Superar todos esses processos (tarefa árdua; difícil, quase impossível) é uma vitória. Contrariar os poderosos é vitorioso. Entretanto, a verdadeira prova de que o espírito revolucionário é exercido e o Art. 1º realmente concretizado, acontecerá quando o indignado subir no degrau do poder, olhar para o povo a qual pertenceu e enxergar que, sem eles a seu favor, não representaria nada. E, ao verem que alguém conseguiu inserir um discurso diferenciado no topo, podem se espelhar e acordar para exigirem seus direitos, que parecem ser camuflados com a idéia de democracia contemporânea.

Segregação curricular



Você é estudante da USP? da PUC? do Mackenzie? da UF? Se sim, sinta-se felizardo, pois o mercado de trabalho certamente visualizará seu currículo com outros olhares. Agora, se você não teve a oportunidade de se matricular em uma faculdade de tradição, de estudar para os embaraçosos vestibulares dessas instituições ou simplesmente não possui 'competência' para pisar os pés nessas louvadas escolas, pode começar a derramar as lágrimas, lamuriar, saltitar de cólera...

Aceite, você será visto como um estudante inapto e inabilitado para exercer suas habilidades nas grandes e influentes empresas da qual tanto sonha trabalhar. Ou você acha que os participantes selecionados para participar do espalhafatoso 'O Aprendiz', do galã Roberto Justus, são profissionais formados em ‘reles’ universidades como UNIP, UNIBAN ou Faculdade Interlagos? Se assim pensava, perdão por desiludi-lo.

O rótulo diz tudo. Sim, porque para lecionar nessas universidades, seu diploma deve ultrapassar o Mestrado – lógico, feito em alguma escola federal. Ou você também acha que para dar aula em uma Mackenzie da vida, são selecionados docentes de instituições ‘inferiores’, como as já citadas?
Certamente o rótulo não define a inteligência e capacidade de nenhum ser. Os empregadores se reduzem a fazer um pré-julgamento intelectual apenas pelos (importantíssimos) currículos de quem caça emprego. E, se a universidade que estuda é vista com bons olhares, creia: seu currículo será superior aos demais. Formou-se em Harvard, Oxford ou Princeton? Espetacular! Que patrão não gostaria de ter como súdito alguém com experiência estrangeira! Seria um passo a frente para a empresa.
Rótulos superficiais

Triste saber, mas essa separação de ‘profissionais bem preparados’ – formandos ou formados em universidades de respeito, onde professores são, tradicionalmente, excepcionais no que se diz ao quesito ensino – e ‘profissionais preparados’ não são notórias apenas em empresas e universidades. Se um aluno se deparar com um professor formado em uma instituição não muito reconhecida, obviamente vai comentar com seus amigos que suas aulas não são boas, que seu conhecimento é ínfimo e seu ensinamento, pífio.

Vale lembrar que esse jovem argumentador um dia irá se formar e saberá o quão difícil é ingressar em uma reconhecida (que não quer dizer grandiosa) faculdade; acertar um considerável número de questões que nem de longe testam sua competência e tirar do bolso uma quantia para a mensalidade que nem sempre é compatível com sua renda.

Caso não seja aprovado nessas valiosas instituições, será obrigado a matricular-se nas ‘inferiores’. E, lá aprenderá o ‘necessário’ para se tornar um bom profissional.
Rótulo não significa qualidade. Uma universidade não pode ser julgada pelo seu vestibular. Não é porque é fácil passar em uma Magister da vida, que seu ensino será reduzido. Bato naquela velha tecla de que, quem faz a faculdade é o aluno. É certo que se pagará por não poder passar em uma escola reconhecida: as portas se estreitarão. Currículo não demonstra aptidão, inteligência, competência ou profissionalismo. Um formado em jornalismo na Cásper Líbero pode não ser tão capaz quanto um formado pela Anhembi Morumbi. E, lógico, não dá para distinguir pelo currículo.
Contra-senso

PUC, Unesp, Usp, UF, Fatec, GV, Ibmec... Quem não adoraria ter um diploma dessas universidades? Alunos reclamam não ter fácil acesso ao mercado de trabalho por não possuirem currículos estampados com um desses nomes. Agora, não acaba sendo contraditório exigir que seu tutor tenha um glorioso certificado?

Quem escuta os males espanta



Existe um imenso conjunto de fatores que compõem uma boa música. Uma voz agradável de se escutar, os sutis ou intensos graves que o som do baixo produz, a vasta comunicação que uma guitarra pode proporcionar com um ouvinte, o elaborado ritmo de uma bateria, os prazerosos toques de um teclado ou piano.


São inúmeras junções, separações, experimentações ou compilações que caracterizam aquilo que chamamos de música. Orquestras, concertos, bandas tradicionais, solos ou big band; não interessa a formação, estilo, princípio ou objetivo, se um som é agradável de se ouvir, é bom e faz bem. Como diz o ditado popular "quem canta os males espanta". Mas nesse caso, quem também escuta manda seus males para longe.


Decifrar o que um artista quer passar, entender a vastidão da mistura dos instrumentos tocados durante uma música ou traduzir a letra de uma canção são elementos indicativos para simbolizar o quão amplo é desligar a mente do cotidiano e acompanhar o ritmo musical. Tanto que, para entender mitos que vão de Beethoven e Mozart a Tom Zé ou Chico Science é necessário compreender o perído histórico que viveram, a importância de suas letras, a revolução que causaram ao lançarem seus discos, shows ou orquestras.


Mas esse universo musical, infelizmente, não é isento de preconceitos e repúdios. Por exemplo, gêneros como forró nordestino, o funk carioca ou sertanejos são vistos como canções repetitivas e sem importância por pessoas que julgam escutar um amplo repertório de sons. É que existem categorias que divergem certas músicas: o Movimento Tropicalista na época da ditadura no Brasil que veio com uma proposta revolucionária, o Metal nos anos 70 e 80 que foram de grande importância para os jovens daquele momento, o blues e o soul nos anos 60 que atraíam milhares de pessoas às danceterias daquele período, etc.


Há canções que fazem refletir, outras que proporcionam o questionamento de uma sociedade, aquelas que mexem os sentidos, as que arrepiam e, as que mais trazem prazer para grande parte da população, as canções que entretêem, que devem ser escutadas numa roda de amigos tomando uma cerveja - categoria que engloba os forrós, eletrônicos e os funks cariocas.


Acima de tudo, música é interpretação, convívio, identificação. É preciso vivenciar para entender. O sertanejo pode trazer elementos ocultos indizíveis, que apenas o povo que mora ou já morou afastado da cidade é capaz de identificar, assim como uma orquestra do violoncelista Yo-Yo-Ma fixa um prazer misterioso para amantes da música erudita.


Portanto não se pode julgar uma nota musical, qualquer que seja ela, repetitiva, lírica ou intensa. Pois ela acompanha o momento histórico de determinada pessoa, forma o pensamento de uma tribo, ajuda alguém a encarar a realidade - não importando o gênero musical que gosta de ouvir. E se forró faz parte da vida de fulano, funk da vida de beltrano e música clássica da vida de cicrano, há elementos, ocultos ou explícitos, que fazem essas pessoas se identificarem com o som que escuta.


E não venham com essa de que só porque uma pessoa gosta de músicas que não fazem pensar, que só trazem entretenimento, são mais ignorantes que aquelas pessoas que possuem em sua disqueteira Mozart, Chico Buarque ou Tom Jobim. Somos influenciados por aquilo que vivenciamos e não cabe a especialistas ou experts julgarem o que devemos ouvir ou deixar de ouvir. Pode ligar sem receios o som de sua casa no último volume e colocar o CD do Aviões do Forró, que isso não transparece nada do que pensa, gosta ou tem vontade de fazer.