quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tropa de Elite 1, 2, 3 e 4

fonte: http://www.adorocinemabrasileiro.com.br/filmes/tropa-de-elite/tropa-de-elite02.jpg

Estava caminhando sob o intenso calor nas ruas de São Paulo, despreocupado com as paisagens que formam a grotesca estética da cidade. Tinha acabado de assistir a um filme blockbuster de moderado grau de violência - cujo nome não me lembro -, decepcionado pelas medíocres cenas de porrada do filme, que me deixaram com gostinho de quero mais.

Na tentativa de buscar alguma referência cinematográfica que satisfazesse essa minha insanidade em consumir sangue, lembrei do noticiário; o filme de José Padilha, Tropa de Elite, foi o mais pirateado na história do cinema: logicamente o encontrarei para comprar nas barraquinhas de camelô que ilustram meu pobre bairro.

"Cara, você tem o filme do BOPE - Tropa de Elite", abordei o vendedor. "Vixe, esse tem de sobra. Tenho o 1, o 2, o 3 e até o 4". "Nossa, já tem quatro seqüências? Mas não são todos a mesma coisa não, né?". O vendedor advertiu: "Que nada! Garanto pra vocÊ que não".

Não resisti. Por apenas R$12, levei 4 filmes e rapidamente dirigi-me até o DVD da minha sala.

Para conferir se não fui sacaneado, coloquei os filmes para ver se funcionavam, até que tive uma surpresa que me inquietou bastante: todos, realmente, eram diferentes. Totalmente diferentes.
O primeiro filme era o Tropa de Elite mesmo, o polêmico, violento e ao mesmo tempo realista obra de José Padilha. A surpresa se iniciou quando coloquei "o 2" no aparelho: na verdade, era uma obra que nada tinha a ver com o filme de Padilha. Era Notícias de Uma Guerra Particular, documentário sobre traficantes e policiais de João Moreira Salles lançado em 1999. O terceiro e quarto DVD´s eram, respectivamente, Dia a Dia de um Policial e Ônibus 174.

Abstraí. O comércio pirata, além de conseguir ter acesso ao Tropa de Elite original e conseguir ter um alto números de vendas de maneira alardeante, nomeia obras de outros profissionais como seqüências, criando uma "quadriologia da insanidade", enganando o público para vender mais.

Não é de se impressionar um ato desses da pirataria, que copia filmes (muitas vezes do cinema, o que resulta uma qualidade de imagem horrível) para vender por preços mais acessíveis. É lógico que muitas pessoas, glorificadas por ter oportunidade de comprar um filme por R$3 ou R$4, optam por isso. Seduz. Inclusive, já comprei diversos DVD´s piratas, pois nem sempre tenho dinheiro para ir ao cinema.

PÚBLICO E CRÍTICAS

Tropa de Elite está nas telonas. Espera-se que grande parte do público vá até as bilheterias e pague para (re)vê-lo. Boa parte do público já o tem em sua casa e já deve ter revisto pelo menos umas três vezes, pois em todo boteco que se vá, não há uma roda de amigos que não discuta sobre o filme.

Li a crítica do filme nos jornais e está com uma boa avaliação. Também, uma narrativa interessante (típica de Bráulio Mantovani, que já foi roteirista de Cidade de Deus, O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias e Cidade dos Homens), uma temática atual e polêmica, atuações incontestavelmente sensacionais (principalmente a de Wagner Moura no papel do Capitão Nascimento) são dignas de elogios.

Só que há uma discussão de que o filme tem uma visão fascista, ou seja, faz apologia à violência e defende o lado policial desse jogo comercial entre miltares e traficantes.

Eu já vejo por outro lado. Acredito que a honra destaca o interesse uníssono de ambos os lados, que respeitam a única regra de lutarem, ultrapassando por todos os limites e barreiras, para sobreviverem nesse mundo globalizado e capitalista.

O filme é ótimo, as "seqüências", que nada tem a ver com o filme de José Padilha, também o são. Só que, infelizmente, prefiro sustentar a pirataria, do que pagar R$10 para ir ao cinema, ou por volta R$40 (preço que irá custar o DVD original de Tropa de Elite) para sustentar uma indústria que suga mais do meu custo-benefício do fim do mês. Corro para onde saio economizando mais. Infelizmente, é assim.